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  3. Identificação e amostragem de nematoides parasitos de plantas
O que são nematoides?

Nematoides são vermes que habitam os mais variados ambientes, desde oceanos, solo, interior de animais e até mesmo dos humanos. Esses organismos podem ainda ser divididos em dois grupos. O primeiro é conhecido como nematoides de vida livre, que são aqueles que se alimentam de fungos, bactérias e matéria orgânica em decomposição. Esse grupo de nematoides é de grande importância pois ajuda na ciclagem de nutrientes e equilíbrio da biodiversidade do solo, beneficiando também as plantas. O segundo grupo possui grande papel na agricultura, conhecido como nematoides parasitos de plantas, ou simplesmente, fitonematoides. Os fitonematoides também habitam o solo, porém, são parasitas das plantas e causam uma série de malefícios à cultura, impactando diretamente na produtividade. A seguir, apresentaremos um pouco mais sobre esses organismos que causam tantos prejuízos às plantas cultivadas no Brasil e no mundo.

Como identificar um nematoide parasita de planta:

Os fitonematoides são organismos que dificilmente são visíveis a olho nu. Em sua fase adulta, podem ter diferentes formas e tamanhos, porém, todas as espécies possuem um formato filiforme (semelhante a um fio) em ao menos uma fase do seu desenvolvimento. Além disso, todos os fitonematoides possuem uma característica em comum, que é a presença do estilete, estrutura especializada, utilizada para perfurar e se alimentar do conteúdo celular do tecido vegetal.

Identificar as espécies de nematoides no campo é difícil, comparado por exemplo, a identificação de insetos. Devido ao tamanho diminuto do nematoide, é possível visualizar as estruturas que caracterizam a espécie apenas por meio de microscópio. Alguns gêneros de fitonematoides interagem com a planta de forma diferente em seu parasitismo, principalmente pela forma que se alimentam dela. Esse hábito diferenciado de alimentação, somado a interação fisiológica com a planta e com outros microrganismos no ambiente, faz com que a cultura manifeste alguns sintomas característicos, que facilitam o diagnóstico do problema. Um dos sintomas mais conhecidos é o surgimento de galhas nas raízes, tipicamente formadas pelos nematoides de galha, do gênero Meloidogyne, como pode ser visto a baixo:

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Os fitonematoides, de modo geral, apresentam uma baixa dispersão na área dentro de uma janela de cultivo, devido ao tamanho pequeno e a mobilidade limitada no solo. Essa característica faz com que as plantas atacadas mostrem sintomas em forma de reboleiras. O sintoma mais comum nas reboleiras, são plantas menores, as vezes amarelecidas, mais sensíveis à falta de água e nutrientes, além de menor capacidade produtiva. Apesar das reboleiras serem um sintoma típico de nematoides, elas também podem ser causadas por outros problemas de solo como fertilidade, pragas e doenças. Além disso, é comum que reboleiras sejam causadas pela associação entre diferentes enfermidades ou por mais de uma espécie de nematoide. Por isso, sempre que houver qualquer sintoma na área é importante retirar amostras e encaminhar para um laboratório para uma diagnose precisa do problema.

                                                     Reboleira em área de soja causada pela infestação

                                               de Meloidogyne javanica

Mas devemos nos preocupar apenas se aparecerem reboleiras na área? A resposta é não. Normalmente, em áreas com alta fertilidade do solo e em safras com chuvas bem distribuídas, as reboleiras são pouco perceptíveis. Em situações como essas, é comum que o problema não seja percebido a tempo de controlá-lo antes de se alastrar por toda a fazenda. Por isso, é importante fazer monitoramento constante, mesmo em talhões que não apresentem sintomas, a fim de detectar os nematoides ainda no início, antes que comecem a causar danos significativos.

Quais espécies de nematoides são mais importantes no Brasil?

Inúmeras espécies de nematoides já foram relatadas no Brasil e não é possível dizer qual é a mais importante, pois é necessário analisar cultura por cultura. Entretanto, algumas espécies ocorrem com maior frequência em mais de um hospedeiro e, portanto, serão destacadas aqui.

Não há como não falar de nematoides sem que venham à cabeça as galhas radiculares, que mais parecem tubérculos nas raízes das mais diversas culturas. A formação de galhas é tipicamente causada pelos nematoides do gênero Meloidogyne, que são considerados os nematoides mais importantes para a agricultura mundial. A galha é formada pela alteração no tamanho e na multiplicação das células das raízes, próximas de onde o nematoide se alimenta, devido a injeção de um complexo de substâncias pelo parasita. O juvenil infectante do Meloidogyne, assim que adentra a raiz, seleciona um grupo de células onde se fixa e se torna sedentário. Esse conjunto de células irá nutri-lo até que ele complete o ciclo de vida.

Mais de 100 espécies desse nematoide já foram descritas pelo mundo. A grande maioria delas se alimentam de plantas hospedeiras específicas, sendo facilmente controladas pela rotação de culturas, como é o caso de M. paranaensis, que tem preferência alimentar por cafeeiro, sendo um sério problema para a cultura. No entanto, algumas espécies como, M. incognita, M. javanica e M. enterolobii, são polífagas, ou seja, podem parasitar uma ampla gama de espécies de plantas, dificultando o seu manejo. Meloidogyne incognita, por exemplo, causa sérios danos a soja, milho, algodão, cana-de-açúcar, feijão, café, hortifruti em geral, dentre outras.

Os nematoides das lesões radiculares, também são outro grupo de grande importância para agricultura brasileira. As espécies de maior relevância desse nematoide no Brasil são Pratylenchus brachyurus e P. zeae. Esses nematoides são altamente distribuídos no país, principalmente na região central. Pratylenchus brachyurus pode ser encontrado em mais de 40% das áreas de soja, e P. zeae em até 95% das áreas canavieiras. A faixa de hospedeiros de P. brachyurus é bastante variada, causando sérios danos as culturas como soja, milho, cana-de-açúcar, algodão, feijão, sorgo, café etc. Por outro lado, P. zeae é um pouco mais seletivo, se alimentando apenas de plantas do grupo das Poaceas, como milho, cana-de-açúcar e brachiárias. Diferentemente dos nematoides de galha, Pratylenchus não tem um grupo de células fixas das quais se alimenta na raiz.

Raízes de cana-de-açúcar infectadas simultaneamente
com Meloidogyne incognita e Pratylenchus zeae.

Outro gênero de nematoides que apresenta hábito de alimentação semelhante ao de Pratylenchus é o nematoide cavernícola, Radopholus similis. Essa espécie afeta principalmente a cultura da banana. Tanto Pratylenchus quanto Radopholus são nematoides conhecidos por serem migradores, ou seja, se movimentam ao longo das raízes, destruindo as células por onde passam. Essa característica viabiliza a entrada de outros patógenos, como Fusarium e Rhizoctonia. A associação desses fungos ao ataque dos nematoides leva ao surgimento de lesões enegrecidas nas raízes, sintoma típico da presença desses nematoides. As lesões resultam na redução do volume de raízes no solo, fazendo com que as plantas sejam menos tolerantes a estresses, como veranicos, além de se tornarem mais propensas ao tombamento, como ocorre em bananeiras infectadas com R. similis.

O nematoide do cisto da soja, Heterodera glycines, é uma espécie que apesar de causar danos apenas à cultura da soja, possui grande relevância para o Brasil, pois é um dos principais, se não, o mais importante problema da soja atualmente. Como o próprio

nome diz, essa espécie é caracterizada pela formação de cistos, que nada mais são do que estruturas de resistência do nematoide. O cisto é formado através da morte da fêmea do nematoide assim que se desprende da raiz. Ao morrer, a cutícula da fêmea passa por um processo de quitinização, se tornando rígida o suficiente para proteger e manter os ovos viáveis em seu interior por até 8 anos no solo. A formação do cisto é o que dificulta o manejo da espécie na cultura da soja, visto que mesmo com rotação de culturas, ele ainda sobreviverá no solo até que a soja volte a ser cultivada. Outro agravante do nematoide de cisto da soja, que dificulta a obtenção e o uso de cultivares resistentes é a existência de uma grande diversidade de raças fisiológicas, que são variações que ocorrem dentro da espécie quanto a capacidade de infectar diferentes cultivares. No Brasil já foram registradas as raças 1, 2, 3, 4, 5, 6, 9, 10, 14, além da 4+, e 14+.


Raízes de soja com a presença do nematoide

de cisto, Heterodera glycines  

Além dessas espécies de nematoides, várias outras também são consideradas importantes no Brasil. Mas devido a grande diversidade e especificidade de hospedeiros,abordaremos cada uma delas, bem como, as estratégias de manejo por cultura, em momento específico.

Como realizar coletas para análise nematológica:

Como vimos na sessão anterior, a diversidade de nematoides parasitas de plantas é grande e cada uma possui características que as distingue das demais, seja pela faixa de hospedeiros ou pelo hábito de parasitismo. Essas características peculiares demandam que estratégias de manejo específicas sejam adotadas para cada uma delas, ou seja, para iniciar um plano de manejo de nematoides é preciso, antes de tudo, conhecer qual ou quais as espécies estão presentes na área. Também é comum que mais de uma espécie ocorra no mesmo talhão, assim como, diferentes níveis populacionais para cada uma delas. Portando, antes de adotar qualquer medida de controle é importante realizar um levantamento detalhado na fazenda e conhecer a situação de cada talhão para tomada de decisão precisa. A amostragem para a análise nematológica não é complexa, porém, destacamos aqui alguns cuidados que são importantes para garantir que o resultado da análise seja o mais próximo do que realmente está acontecendo no campo.

Os nematoides são organismos que necessitam de umidade no solo para sobreviver, isso faz com que a população das espécies varie ao longo do ano. Períodos chuvosos tendem a favorecer maiores índices populacionais, por isso, esse período é o mais indicado para se fazer a amostragem. Além disso, é importante evitar coletas com o solo muito seco ou encharcado, sendo o ideal a coleta com o solo em capacidade de campo. Também é importante considerar o ciclo da cultura, no caso da soja, a melhor época de coleta é no início do estágio reprodutivo. Já na cana de açúcar, a amostragem pode ser feita a partir dos 3 primeiros meses de instalação do canavial ou assim que for feito o corte, pois nesse momento poderá ser realizado algum tipo de tratamento na soqueira para o próximo ciclo.

O primeiro passo para se realizar uma boa amostragem é planejar os pontos de coleta antes mesmo de ir ao campo. As áreas podem ser divididas e talhões homogêneos, a começar pelos que apresentam menores índices produtivos ou maior presença de reboleiras. Também devem ser considerados os talhões que variam em cultura, cultivar, idade, áreas mais baixas/altas, irrigação, textura de solo, fertilidade e até mesmo teor de matéria orgânica. Feita a divisão, deve ser verificada a quantidade de amostras simples e

compostas que precisarão ser tiradas em cada talhão. A quantidade de amostras e subamostras também varia de acordo com a cultura e as dimensões do talhão, mas em geral, recomenda-se ao menos uma subamostra por hectare. Quanto mais pontos coletados, mais preciso será o resultado. Uma boa dica na hora da amostragem é coletar os pontos em ziz-zag. Em caso de reboleiras, é importante coletar amostras, não apenas no centro, mas também nas margens e fora da mancha.

Em cada ponto de coleta é recomendado que ao menos 200 g de solo seja retirado do perfil do solo, de 0-20 cm para culturas anuais e 0-40 cm para culturas perenes. Nesse mesmo perfil, coleta-se as raízes da planta (± 100 g) que é onde concentra-se a grande maioria dos nematoides. Esse primeiro ponto é considerado uma subamostra, que deverá ser somada às outras para formar uma amostra composta. É importante que a amostra composta tenha ao menos 1 Kg de solo e 400 g de raiz. Essa quantidade de material é o necessário para que o laboratório consiga identificar com precisão as espécies que ali ocorrem. Caso o produtor tenha interesse em coletar amostras em períodos de entressafra, quando não há planta cultivada na área, pode-se coletar o solo e raízes de plantas daninhas, no entanto, é importante ressaltar que o resultado não será tão fiel ao de uma amostragem feita na cultura de interesse, visto que as espécies e populações mudam drasticamente de acordo com o hospedeiro.

 Quantidade de raízes necessárias para

uma amostra de análise nematológica.

O material coletado precisa ser armazenado em sacos plásticos e identificados com as informações do talhão e do coletor. Além disso, juntamente com amostra, o coletor precisar informar ao laboratório outros dados como a cultura presente, cultivar e histórico de cultivo das últimas 3 safras, data da coleta, dados do responsável, dentre outros. Ainda durante a coleta, é importante armazenar as amostras em ambiente ao abrigo da luz e temperatura. A exposição da amostra ao calor excessivo pode inviabilizar a identificação dos nematoides. Para isso, pode ser utilizado uma caixa de isopor ou papelão.

Assim que finalizada a coleta, as amostras devem ser encaminhadas o mais breve possível ao laboratório. Se for preciso, pode-se armazenar as amostras na geladeira, tomando cuidado para que não congelem, até que sejam encaminhadas para análise. A escolha do laboratório em que a amostra será processada também é de grande importância. É essencial priorizar laboratórios confiáveis e credenciados que possuam pessoal capacitado para realizar as análises e que façam a identificação dos nematoides ao nível de espécie.

Considerações finais

Os nematoides parasitas de plantas são um sério problema na agricultura brasileira. Várias espécies já foram relatas e cada uma possui uma particularidade, que também pode variar de acordo com as condições de cultivo e cultura hospedeira. Nematoides são um problema crônico, sendo impossível erradicá-lo da área. Portanto, o primeiro passo para iniciar um manejo e conviver com nematoide sem que cause danos, é conhecer a área cultivada. Para nematoides, isso só é possível realizando uma amostragem precisa ao longo dos talhões, tomando todos os cuidados devidos e encaminhando as amostras para um laboratório com pessoal capacitado para realizar as análises. Tendo conhecimento das espécies e dos seus respectivos níveis populacionais, poderão ser adotadas estratégias de manejo precisas, de forma a minimizar os danos causados pelos nematoides.

Texto produzido em parceria com a página Nematologia em Foco.

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